Escrevinhar(Te)!
A escrita tem o dom de apaixonar milhares de pessoas. E há tantos seres humanos com talento que eu decidi dar a oportunidade de cada um deles dar asas à sua imaginação.
KukiCheguei e … decidi viver, não sobreviver. O dia que amanheceu solarengo convida a sair de casa e passear. Sair sem saber onde o destino nos leva, sem compromissos, sem pressas de viver, apenas a apreciar cada minuto que passa. As regras são simples: viver! Viver cada minuto, cada experiência e saborear todas elas. Longe das redes sociais que nos absorvem a energia a troco de nada, sem partilhas nem visualizações. Afinal a vida é muito mais que a troca de gostos e comentários. A vida é mais do que vemos através das fotografias partilhadas, das histórias que as legendas nos contam, das vidas perfeitas que nos mostram. A vida é criar a nossa história e saborear todas os momentos dela. Daniela MilagaiaCheguei e deparei-me com a vida. Sem querer, despedacei inúmeros corações. Vivi a vida, sem ligar às impressões Que a humanidade alheia tinha de mim. Cheguei e chorei, após várias perdas Das pessoas que faziam parte de mim. Caí no beco, num poço sem fundo Onde não havia luz nem salvação. Rafael Gomes cego-surdo-mudo.blogspot.pt/O mundo tornou-te incapaz de suportar qualquer tipo de vinculação e para tal converteste a dependência afectiva numa ausência total de emoções.
Quanto a mim, ainda me restam as memórias que tu tanto forçaste para apagar e que me transformaram num monstro solitário, vivendo apenas daquilo que tu foste mas já não és. É em vão a minha tentativa de transformar a saudade em ódio, inútil o esforço em esquecer a altura em que me senti mais vivo do que nunca…no entanto não é em vão tentar chegar a ti, uma última vez… corri! As lágrimas escorrem-me o rosto, eu quero-te mais que tudo, acorda dessa penumbra realidade que criaste, larga o passado… -Quem é?- Esta voz suou-me no meu vazio inconsciente! Cheguei… já era tarde demais!
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Neste desafio houve 5 vencedores. Foi bastante difícil de pontuar pela excelente qualidade de cada um. Contudo, aqui fica os textos para poderem dar uma vista de olhos. TriptofanoCheguei e... encontrei o apartamento submerso num profundo silêncio. Não encontrei réstias dos gritos delicados dela enquanto corria pelas divisões da casa, do barulho metálico que emanava do televisor sempre sintonizado num canal de notícias estrangeiro, nem sequer do tamborilar nervoso dos dedos dele no tampo da mesa enquanto comia sucessivos longos cigarros que lhe pendiam do lábio frouxo. Já passava há muito da hora de jantar. Fechei a porta atrás de mim com um baque surdo, de forma a não afastar a memória húmida das vozes que tinham estado naquele espaço. Eram tão recentes que quase as podia agarrar se os meus reflexos não estivessem entorpecidos pelas enésimas horas de trabalho diário. Porque é que a mamã ainda não chegou? A tua mãe está a trabalhar querida. A mamã gosta mais do trabalho do que de mim? (…) Sorrateiramente, dirigi-me ao quarto do fundo, onde ela dormia. Do pequeno espaço pintado de roxo não vinha nenhum som. Talvez fosse essa uma característica dos sonos tranquilos, sem preocupações nem recriminações psicológicas, que apenas uma criança poderia alcançar. Abri a porta, e quando os meus olhos se habituaram à penumbra apenas vislumbrei uma cama vazia. Certamente que se tinha ido aconchegar com o pai, acompanhada do Macaco José, o seu peluche favorito. Rodei o corpo em direção ao meu quarto. Em duas passadas alcancei a maçaneta, e quando a rodei abrindo a porta, senti o coração saltar duas batidas. Ninguém! Num movimento cegamente descoordenado, lancei-me contra o roupeiro, e abri-o num supetão. Furiosamente vazio, assustadoramente vazio, desesperadamente vazio. Lancei um grito dilacerante que me morreu algures entre a boca e a garganta mesmo antes de poder ser ouvido por alguém, enquanto me quebrava no chão e as lágrimas ácidas criavam estradas através da minha maquilhagem barata. Tinha chegado tarde demais… Raquel PereiraO desejo dela era intenso e fervoso, quase animal. Ela chegou ao mundo com uma vontade férrea, capaz de provocar inveja em qualquer soldado. A mãe dela tinha existido e não vivido e ela não podia ser mais diferente. Ela fez de si mesmo uma prioridade e teve a coragem de viver a vida da forma que mais desejava. Um dia, alguém disse, “a maneira mais eficaz de fazer alguma coisa é…fazendo”. E ela assim fez. Ela nasceu para subir montanhas e percorrer mares. Ela sorria no meio das lágrimas e brincava perante a confusão. Ela manipulou o temporal que é a vida e transformou-a em chuva. Ela era perigosa na sua determinação e a paixão com que vivia queimava-lhe o percurso que devia percorrer, incinerando-lhe os medos pelo caminho. Ela mudou de vida tantas vezes quanto aquelas que o sol se põe, nunca deixando o passado defini-la - ou deixando-se intimidar pelas possibilidade infinitas do futuro - pois ela cometeu erros, viveu-os e sentiu-os nos ossos. Ela perdeu sono e apetite mas, os seus erros foram sempre encarados por ela como oportunidades para começar de novo. Os sonhos dela eram em igual número que as batidas do seu coração. Ela, desde tenra idade, que começou o seu império de vontades, pois acreditava que eles lhe foram dados por um motivo. Ela criou a vida que mais desejou. Mas ela não sou eu. E ela não és tu. Ninguém era ela, e esse era o seu super-poder. Portanto, quando foi a vez dela partir, ela fê-lo tarde e com um sorriso de “tarefa cumprida” e quando voltou a ver a mãe disse: “Cheguei e conquistei o mundo.” Márcia CanatoCheguei e sorri. Sorri, porque sempre me fizeste sorrir. Sorri, porque era assim que encaravas a vida. Nunca te vi chorar, nunca te vi triste. Olhavas para a vida como mais ninguém olha. Vivias a vida como mais ninguém vive. Sabias que um dia ias partir, viveste a vida com muita intensidade e partiste em paz. Cheguei àquele quarto de hospital, olhei para ti e sorri. Nunca pensei que fosse a última vez que te veria. Falei para ti como se me estivesses a ouvir e me fosses responder. Contei-te o meu dia e a excelente nota que tive no teste de português, sei que ficarias orgulhoso se me conseguisses ouvir. Naquele dia pensei que a força que te dei chegaria para ficares comigo. Não queria te ver partir, não estava preparada, mas agora já não posso fazer mais nada. Cheguei e sorri. Sorri, abracei-te, falei contigo. Quando acabou a visita olhei para os teus olhos fechados e sorri. Apertei-te a mão com muita força e despedi-me – “Até amanhã avô!” e aí um sorriso apareceu na tua face. Pensei que o veria mais vezes, pensei que aquele era um sinal que ias ficar comigo por muitos mais anos. Agora sei que aquele sorriso foi apenas um adeus, mas pelo menos sei que não chorei na última vez que te vi porque “Cheguei e sorri”. Carolina Carmo" Cheguei e... Cheguei e achei que não fosse verdade, o que os meus olhos viram, mas a minha alma sentiu outra coisa. Se eu soubesse que amar seria assim, doloroso e alegre ao mesmo tempo não sei se escolhia este caminho. Chegamos ao ponto de já não sabermos nada, de estar tudo no que podemos chamar de bola de neve dos sentimentos. Queria chegar ao meu lugar, ao meu destino que sempre pensei que fosse contigo, mas no entanto me enganei. Eu queria, no fundo queria mesmo...mas crer não chega para te amar! Cheguei e vi, vi o que não queria ver, senti o que não queria sentir. Confundi as tuas palavras com as minhas palavras... É chegar ao ponto de partida e chegar como se partiu, com nada para amar, com nada que restasse de um coração que por duas vezes caiu numa armadilha! Chega de crer mais, chega de crer fugir, chega de crer esconder do que tenho medo. É chegar e ver que não passou de um sonho só meu !!" Carina TomazCheguei e…
…dei por mim a pensar na vida. Pensar no quão boa ela era. Quando somos crianças tudo é maravilhoso, mágico, tudo nos parece um conto de fadas, sem problema algum. Até que isto muda de figura, por volta dos 13 anos, quando a adolescência começa. Os problemas e a nossa noção da realidade aparece. Tudo se torna sombrio nesta idade, apesar de mutas vezes não o ser. Simplesmente achamos que somos adultos quando não o somos. Se em criança não existiam preocupações, nesta fase da vida tudo é preocupante. Tudo nos faz sentir preocupados com algo ou alguém. Se me perguntassem para fazer isto numa outra altura da minha vida diria: cheguei e encontrei um dinossauro, ele chamava-se Al. O Al era o meu melhor amigo. Até que me fez esquecer tudo e todos. Fez-me pensar na vida que não tive por causa dele. Estes últimos anos com o Al fazem de mim muito triste, mas feliz por voltar a ser criança. Os meus parentes mais próximos (ou assim dizem que o são) dizem que o Al não é real mas eu sei que é. O alzheimer é muito real na minha vida e preferia nunca ter encontrado este dinossauro. Triptofano"Hoje os sonhos estão noutro patamar. Precisamos a todo o custo de ser os maiores, os melhores, os mais rápidos, os mais bonitos, os mais fortes, os mais santos, os mais qualquer coisa desde que sejamos mais do que os outros. Afinal os nossos sonhos não são mais importantes do que os dos demais?! Mas de onde surgiram eles? Da nossa cabeça? De uma voz que nos sussurra ao ouvido? Das palavras brilhantes num monitor? Das letras desbotadas de um livro? Independentemente da sua origem, a sociedade impele-nos para os concretizar. Porque não podemos morrer com arrependimentos, não podemos conceber sequer a ideia de não termos tentado atingir aquele patamar idílico que visualizámos. Por isso comemos, e vomitamos, e cortamos-nos, e rezamos, e choramos, e alheamos-nos de tudo o que está ao nosso redor, porque ambicionamos atingir uma vida que está quase ao nosso alcance, mas continua tão longe, e a porcaria da vida que temos de momento não serve para nada, porque temos é de continuar a almejar morrer apenas com memórias, e sem sonhos por concretizar. Pois eu prefiro morrer com sonhos, em vez de com a memória de uma vida que nem sequer cheguei a viver." |
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